Você já deve ter ouvido falar das belezas naturais e das atrações turísticas envolvendo a prática de ecoturismo que o estado do Mato Grosso do Sul oferece, mas você sabia que a região também abriga povos indígenas?! Isso mesmo, estamos falando dos Índios Kadiwéu que povoam a região desde muitos anos atrás.
Quem São os Índios Kadiwéu
Também conhecidos como “índios cavaleiros” devido a posse de grandes rebanhos de cavalos, bem como a alta habilidade de montaria nos mesmos, os indígenas Kadiwéu são referência quando falamos de arte, mitologia e modo de viver em uma sociedade hierarquizada entre cativos e os seus senhores.
Nos primórdios, sua sobrevivência estava relacionada com os saques e os tributos que recolhiam de seus vizinhos, também dependiam dos mesmos para sua reprodução, tendo em vista que suas mulheres não geravam filhos ou permitiam que apenas um sobrevivesse. O verdadeiro foco de suas mulheres estava voltado às pinturas de elementos geográficos corporais e faciais, os quais se tornaram famosos e reconhecidos até os dias atuais.
A riqueza dos formatos e dos elementos utilizados nessas pinturas corporais feitas pelas indígenas se popularizaram tanto que chegaram até Darcy Ribeiro que recolheu a coleção e posteriormente reproduziu e publicou um livro sobre os Kadiwéu. Além disso, seus grafismos inspiram tatuagens, design de moda e objetos de cerâmica atualmente.
Inclusive, as peças de cerâmica feitas pelas mulheres da aldeia também são consideradas como um marco cultural para este povo. E o melhor é que os objetos são produzidos de maneira natural, a matéria-prima, por exemplo, é obtida dos barreiros e os pigmentos para a decoração também é extraída diretamente da natureza, e assim são formados vasos, pratos, potes e diversas outras belíssimas peças.
Os Kadiwéu também praticam uma série de ritos, tais como: ritos funerais, ritos de iniciação feminina, ritos de Navio e diversos outros. Esses rituais são marcados por músicas, danças, brincadeiras e jogos de acordo com o objetivo de cada ritual.
Onde vivem os índios Kadiwéu?
Os índios Kadiwéu vivem na região pantaneira do Mato Grosso do Sul, suas terras estão localizadas no município de Porto Murtinho, no entanto, os indígenas vivem em 4 aldeias diferentes espalhadas pela região, uma delas, inclusive, ao pé da Serra da Bodoquena.
Existem ainda pequenos grupos de indígenas Kadiwéu que vivem em regiões mais afastadas das aldeias principais, onde cuidam de pequenos rebanhos de gado. Mas em relação à aldeia maior, a cidade de Bodoquena é a mais próxima, seguida de Miranda, Aquidauana e posteriormente a capital do estado, Campo Grande.
Campo Grande, inclusive, é considerado pelos Kadiwéus como centro urbano de maior importância, visando questões estratégicas e administrativas, afinal, nessa cidade está a sede da FUNAI que os jurisdiciona, a ACIRK (Associação das Comunidades Indígenas da Reserva Kadiwéu), a associação dos fazendeiros arrendatários e a ACRIVAN (Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque).
É possível conhecer uma aldeia Kadiwéu?
Sim, é possível conhecer de perto essa cultura indígena, experiência que fica ainda mais especial se tratando dessa tribo tão importante para a história do nosso país. Para visitar uma aldeia Kadiwéu, você precisa passar pelo Parque Nacional da Serra da Bodoquena.
O parque abriga a Reserva Indígena Kadiwéu, mas para chegar até ela é necessário percorrer cerca de 7 quilômetros de trilha em meio a mata circunda a região, a qual está às margens do Rio Perdido, que assim como os demais rios da região, possui águas extremamente cristalinas e de tons magníficos de verde esmeralda.
O percurso é fácil e divertido de ser percorrido, visto que o monitor que acompanha o grupo de turista vai relatando a influência dos indígenas durante a Guerra do Paraguai e chegando na aldeia você tem o privilégio de conhecer de perto essa etnia e também adquirir peças de cerâmicas produzidas pelos próprios indígenas, é uma experiência realmente incrível!
História dos indígenas Kadiwéu
Os Kadiwéu são povos descendentes dos Mbayá-Guaikuru. Seus primeiros registros em território brasileiro se deu em meados do século XVI, quando os seus antepassados habitavam a região Gran Chaco. Este período também foi marcado pela chegada de colonizadores espanhóis e portugueses no Brasil.
E embora a região Gran Chaco abranja territórios do Paraguai, Bolívia e Argentina, além do território brasileiro, os indígenas Kadiwéu escolheram lutar bravamente pelo Brasil e assim tiveram as suas terras reconhecidas. Tal fato se deu durante a Guerra do Paraguai, entenda um pouco mais sobre a participação dos Kadiwéu nesse marco histórico, a seguir.
Guerra do Paraguai
Desde o início da guerra, a tribo indígena era bastante temida pelos colonizadores espanhóis e portugueses, e de fato, não demorou muito para os Kadiwéus realizarem um ataque que promoveu a conquista do Forte de Coimbra, a destruição da Vila de São Salvador e a captura das mulheres que viviam nessa região.
Segundo relatos de Alfred d’Escragnolle, as tropas paraguaias se desgastavam rapidamente durante a tentativa de ocupação dos territórios brasileiros, isso graças ao grande empenho das tropas indígenas, que causaram ainda mais prejuízos aos inimigos depois da conquista sob o Forte Olimpo.
E foi às margens do Rio Paraguai e montados em seus cavalos que os índios Kadiwéu defenderam a população sul matogrossense e também as suas terras, porém apesar de conquistá-las, somente 1981 o governo brasileiro demarcou e reconheceu aquelas terras como pertencentes a tribo indígena.
Direito Territorial da tribo indígena:
Apesar de terem conquistado o Direito Territorial durante a Guerra do Paraguai, os índios Kadiwéu ainda permaneceram insatisfeitos e realizaram diversas manifestações, pois segundo eles, a população indígena saiu prejudicada nessa demarcação, deixando parte do território originalmente conquistado na Guerra do Paraguai fora dos limites, por isso, eles reivindicam seus direitos até os dias atuais.
Mas não para por aí, mesmo após de ter suas terras reconhecidas e demarcadas, mais de 20 fazendeiros que tinham suas terras dentro da reserva indígena, resistiram em não desocupá-las, porém em 2018, a FUNAI em um tribunal superior se mostrou a favor dos índios.
No entanto, suas terras ainda são o foco de invasão de grileiros e madeireiros ilegais que além de roubar madeira também levam animais. E não podemos deixar de falar dos incêndios que ameaçam a população indígena, entre 2019 e 2020, inclusive, parte significativa do seu território foi queimada.